Nos últimos quinze dias percorremos vários municípios localizados nas calhas dos rios Purus, Madeira, Juruá, alto Solimões, alto rio Negro e pelo baixo Amazonas. Voando a 11.000 pés de altitude, deslizando em lanchas velozes ou percorrendo estradas difícieis, os cenários ambientais que encontramos em todas estas regiões, é muito preocupante. Eirunepé, lá no rio Juruá, sofre com nuvem de fumaça que se espalha pela cidade. Uma bruma quente e densa se forma, deixando a visão turva, escondendo as casas mais distantes. Essa fumaça, aumenta a sensação de calor, irrita os olhos e dá nos nervos. Como se tudo isso não bastasse, a população ainda sofre ameaça de desabastecimento de combustível, por causa do nível cada vez mais baixo do rio Juruá. O enorme calor abafado, faz o rio baixar num ritmo acelerado. Os moradores já sofrem com o racionamento de combustível. O motivo é a seca acentuada e rápida do rio Juruá. Balsas e embarcações similares não podem subir o rio, que já está muito seco. O pior é que o pico do verão começa agora em setembro. O que se pode esperar?
No alto Solimões a “voadeira” que viajávamos quase subiu numa praia invisível bem no meio do rio. Embora seja um rio largo, já começa a obrigar comandantes de embarcação a navegar pelo canal mais profundo. Praias enormes paracem querer jjuntar margens opostas. Mesma situação no Madeira. Tudo muito seco, quente e enfumaçado. Na região do baixo Amazonas, visitamos Parintins e constatamos que o rio Amazonas ainda não está com nível de seca muito grande. Pequenos lagos que circundam a região da Ilha Tupinabarana, ainda têm água, mas já diminuíram muito de tamanho em relação à quinze dias, quando sobrevoamos a ilha de Parintins.
A fumaça, aumenta sensação de calor, causa doenças respiratórias, inviabiliza a aviação, formando uma barreira de fuligem que para ser superada, obriga os aviões a atingir altitudes superiores 6.000 mil pés. Só a partir daí e muitas vezes até mais, é que conseguimos visualizar o céu limpo e azul do firmamento. Isso é terrível! É como se morássemos numa estufa. Todos respirando ar contaminado, cheio de vírus e substâncias tóxicas em suspensão.
Precisamos parar imediatamente com o fogo que se espalha pelas florestas em todo o Brasil. Aqui no Amazonas os focos são incontáveis. Todo fogo gera fumaça, até mesmo aquele lixinho doméstico. No interior queimar o lixo (normalmente orgânico) do quintal é uma prática corriqueira. Aqui em Manaus, tais gestos se repetem. No interior a maioria das cidades estão cercadas por florestas, rios e igarapés ainda limpos. Aqui o quadro é muito pior. temos apenas fragmentos de florestas conservadas no entorno e quase a totalidade de nossos igarapés estão poluídos. Manaus está se matando. Atitudes paliativas e muito discurso é o que se vê. Tem tanto encontro prá “discutir” que acaba faltando tempo prá realizar. Nosso compromisso com o último igarapé vivo da Apa-Tarumã continua de pé. Vamos continuar contando sua história de sobrevivência. Talvez assim o Água Branca consiga mobilizar amigos para preservá-lo. Nosso conto está sendo acompanhado por muita gente no amazonas, no Brasil e pelo mundo afora. Viva Água Branca!