Foi muito triste! Chegamos de mansinho no local do ninho da mamãe beija-flor, após dois dias seguidos de chuvas muito fortes no Tarumã. O silêncio dos bichos na mata, contrastava com o barulho das gotas de água que caiam das grandes árvores encharcadas. No ninho restava apenas uma pequena bolha d’agua, pouco maior que uma ervilha. Mamãe beija-flor não estava mais lá – talvez marinheira de primeira viagem- e os dois filhotes também não. Foi o fim de uma história que nem começou direito
Olhando mais de perto, notamos que a inclinação do ninho em relação ao solo estava bastante alterada. Achamos que ventania e chuva combinados, fizeram a folha – que ficava na parte mais externa da árvore – balançar muito e o ninho ficou molhado, aumentando seu peso, deslizando cada vez mais para baixo. Até, por assim dizer, “derramar” seus ocupantes para fora. A mamãe beija-flor escapou ilesa e os filhotes, podem ter caído no chão e com mais de seis dias de nascidos, pereceram.
Mas, foi mesmo a chuva e a ventania? Ou teria sido um predador especializado em escaladas quase impossíveis? Também poderia ter sido simplesmente a inexperiência em construções de um beija-flor, marinheiro de primeira viagem, que construiu sua primeira fortaleza no lugar errado. O fato é que este micro-habitante dos fragmentos de floresta da APP-Tarumã, nos mostrou como a vida é frágil nestas florestas que também lutam para se manter em pé.
Todos nós ficamos tristes quando perdemos algo que amamos. Dois de nossos micro-amados partiram, mas deixaram uma macro-missão: Continuar contando histórias do Igarapé Água Branca e de seus moradores. Um dia, quem sabe, contaremos de novo a mesma história com final feliz. Basta apenas que nossa tribo Manauara deixe viver, os últimos fragmentos de florestas.
No fim, ainda aprendemos um pouco mais sobre coisas aparentemente, boas e ruins. A praga mais temida pode não ser tão maléfica e até abrigar fortalezas, como o ninho do micro- beija-flor laranja, que usou a Vassoura-de-Bruxa, que ataca o cupuaçu, como matéria-prima principal na confecção de seu ninho.